Frequentemente recebo no consultório pacientes queixando-se de dores no peito, palpitações, falta de ar etc.. sem nenhum tipo de origem física, com exames absolutamente normais. Na verdade, não é o coração físico que está doente, mas sim o emocional, o psíquico e porque não o espiritual?
Muitas vezes a tristeza de uma perda, o estresse exagerado do nosso cotidiano fazem com que tenhamos sintomas relacionados ao centro de toda a nossa afetividade: o coração! É no centro do peito que vem a angústia de um relacionamento amoroso desfeito, da perda de um ente querido, ou mesmo dos reflexos do isolamento social das grandes metrópoles.
Cabe a nós, clínicos, e cardiologistas, sermos os primeiros profissionais a ter contato com esse tipo de pacientes. Cabe a nós reconhecermos os transtornos de ansiedade e de afetividade incipientes para, com sabedoria, iniciarmos o tratamento correto.
É rara a procura imediata pelo especialista em doenças mentais, devido ao tabu existente com relação ao psiquiatra, ou ainda pela falta desses profissionais no serviço público e mesmo no setor da saúde suplementar.
Muito se fala sobre depressão – doença que representa a segunda causa de afastamento no trabalho, situação que incomoda os serviços previdenciários do mundo todo.
Entretanto, pouco se sabe das verdadeiras causas dessa patologia, ainda não reconhecida como “doença” por muitos. Infelizmente vemos pessoas que convivem com deprimidos achando que tudo não passa de uma maneira de se chamar a atenção.
Essas pessoas não sabem que a depressão é uma doença mental, que pode ter origem no corpo, no psiquismo e no espírito e que deve ser tratada com muito cuidado, pois a sua complicação maior é o suicídio, situação frequente e triste que não raramente vemos nas notícias da mídia.
Tratar a depressão é uma tarefa, muitas das vezes difícil, pois como ela tem um caráter multifatorial é importante que se analise o paciente como um todo, antes de realmente iniciar qualquer procedimento.
É necessário afastar as causas orgânicas da depressão, como disfunções da tireóide, sequelas de acidentes vasculares cerebrais, doenças demenciais, Parkinson etc.. Após isso, o tratamento medicamentoso é imprescindível, ao lado psicológico e também do espiritual.
Acho extremamente importante o paciente ser tratado nas três dimensões humanas, não se podendo esquecer da espiritual. Para nós, católicos, sempre recomendo a confissão, pois um dos maiores problemas das pessoas deprimidas é o sentimento de culpa que carregam por toda a vida, situação que pode ser imediatamente resolvida com o perdão de Deus.
*Dr. Roque Marcos Savioli é cardiogeriatra do INCOR-HCFMUSP e autor dos livros “Uma dor sem nome”, “Um coração de Mulher” e “Um coração Saudável” pela Editora Canção Nova.