*por André Cunha
A música está presente na história do povo de Deus há milhares de anos, como observamos no Antigo Testamento. Há muitos anos ela também enriquece as celebrações litúrgicas.
No Brasil, a música ganhou um espaço mais amplo entre os católicos na década de 70, passando a ser, além de um ornamento litúrgico, um instrumento eficaz de evangelização. Recordamos, por exemplo, padre Zezinho e padre Jonas Abib, pioneiros na evangelização pela música. E hoje temos muitos outros padres cantores, enriquecendo o meio musical com a mensagem cristã.
Olhando de forma mais profunda os primórdios, constatamos algo em comum entre esses que desbravaram a música católica brasileira: o talento. Fazer música naquela época já era um desafio enorme, porque, afinal de contas, que recursos aquelas pessoas tinham? Praticamente nenhum, comparado ao que temos hoje em relação à tecnologia, técnicas e finanças, etc.
Além disso, era um tempo em que a Igreja ainda não estava habituada a ouvir um tipo de música com conteúdo cristão fora das missas, e em português, já que as celebrações deixavam de ser em latim, bem como as músicas cantadas. Ou seja, eram muitos desafios à frente desses pioneiros.
Todavia, eles tinham um ponto a favor: eram pessoas talentosas, que tendo o mínimo para começar um trabalho que amavam, sabiam executar com perfeição. Poderiam ter pouca técnica vocal ou conhecimento instrumental, mas tinham consigo um presente dado por Deus. Eram pessoas vocacionadas, artistas na alma; Deus lhes deu o talento para a música.
O que quero dizer com isso? Algo muito simples: para trabalhar com a música na Igreja não basta ter boa vontade ou desejo de evangelizar, também é preciso ter talento. Talvez algumas pessoas analisem esta afirmativa com maus olhos, achando que é um tipo de acepção ou discriminação, mas não se trata disso.
Precisamos ser simples e realistas: há pessoas que nasceram para a música e outras que não. Estas talvez tenham o dom de pregar, de ensinar, de escrever e de cuidar, etc.
Um músico talentoso não precisa de grandes esforços pra ser encontrado; os bons ouvidos o encontrão em algum momento. Primeiro, porque ele fará música logo cedo, depois fará sempre e cada vez melhor, e então poderá se colocar a serviço de Deus, pois trabalhou bem o dom recebido.
Deus dá o dom, mas somos responsáveis por desenvolvê-lo, estudá-lo, trabalhá-lo para que seja tudo o que pode ser. É preciso conhecer-se e não ter medo nem orgulho de dizer: não nasci pra isso, ou, eu tenho o dom de ser músico. Seremos mais felizes quando estivermos no lugar certo e com o dom certo!
André Cunha é Jornalista, músico da Igreja Católica há 22 anos e membro do Coral Canção Nova.