*Por padre Marcio Prado
A Trindade, o Pai e o Filho e o Espírito Santo, continua a ser um mistério: um só Deus em três pessoas e não três deuses. É um mistério central da vida cristã. A Igreja, com autoridade confiada pelo Senhor, procura ensinar e transmitir essa fé.
O início do livro do Gênesis diz: ‘No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra era informe e um vento pairava sobre as águas. Deus disse “Haja a luz” e houve a luz’ (Gn 1,1-3). Nestes primeiros versículos são citados, ainda que não explicitamente, Deus (Pai) “criou o céu e a terra”, o Espírito – “o vento que pairava” – e o Filho, que é a palavra, o Verbo – “Deus disse”.
Ainda no livro do Gênesis (Gn 18,1-15) houve uma aparição no Carvalho de Mambré e nessa aparição o texto se revesa em dizer três pessoas e depois uma pessoa.
Quando Davi é ungido com o óleo para reinar, que óleo é este senão o Espírito do Senhor (Espírito Santo) que “precipitou-se sobre Davi desse dia em diante” (1Sm 16,1-13)? Também foi o Espírito do Senhor que profetizou através de Miquéias e que anunciou que o Messias viria de Belém de Judá (Mq 5,1) já se nota que em Jesus Cristo se cumprem as Escrituras. Ele é o filho de Davi (Mt 1,1), do qual Deus prometeu uma descendência e um reinado para sempre. Jesus é o Filho de Deus! (Mc 1,1)
No decorrer de Sua história, quando foi batizado por João Batista, uma voz vinda dos céus dizia: “Eis o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3,17). Logo no início do seu ministério há uma força que o acompanha: “Jesus pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto” (Lc 4,1-2). Nestas passagens vemos o Filho e o Espírito Santo e mais adiante Jesus declara para que veio: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). As palavras de Jesus, seus milagres, tudo o que Ele fez foi para revelar a face do Pai e nos salvar. A Trindade é esse mistério revelado em Jesus e oculto pela limitação humana.
Na liturgia rezamos ao Pai pelo Filho no Espírito Santo em cada oração; toda liturgia é voltada ao Pai. Um exemplo é a oração da coleta no início de cada missa “Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade (Jesus) e o Espírito santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém” (Domingo da Santíssima Trindade – Ano C)
Deus é o Criador de todas as coisas. Para Israel, nesse sentido, é Pai devido à Aliança e o dom da Lei – é Pai dos pobres, da viúva e do órfão. Deus é Pai e ama muito a cada filho. Ele se revelou através de Jesus Cristo: “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus é Pai e revelou a sua face em Jesus, Jesus é a face misericordiosa do Pai. Antes, sobretudo, no Antigo Testamento, ainda que o povo de Deus tivesse uma noção de Deus,era um Deus distante. Em Jesus, com suas obras, ensinamentos e vida mostra-se um Deus próximo, o “Deus conosco” (Is 7,14). Jesus revelou o amor do Pai tão necessário também para os nossos dias e ele ensinou os discípulos a orar e a chamar Deus de Pai (Mt 6,7-15; Lc 11,1-4).
No Evangelho de Lucas (15,1-3.11-32), de maneira muito especial através de uma parábola, Jesus não só revela um filho arrependido que resolveu voltar para casa, mas mostra que Deus é o Pai das Misericórdias. O pai que aguardava sempre o filho e quando o viu correu ao seu encontro, um pai que nem deixou o filho se desculpar dos erros, porque o mais importante era sua volta, um pai que não cobrou, não julgou e nem condenou Ao contrário: o pai fez festa e lhe deu um nova túnica, sandálias, anel e um grande banquete. O Pai do céu é assim rico em misericórdia!
É assim que queremos celebrar a Festa da Santíssima Trindade, e a Festa do Pai das Misericórdias, na Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP), em 22 de maio. O Pai amou e ama muito você. Ele aguarda o seu e o meu retorno! Talvez nos extraviamos por causa dos pecados, nos perdemos, veio a doença, a morte, uma desavença. Mas o Pai continua na expectativa e não vê a hora de nos ver dando passos em sua direção. Ele está de braços abertos, e ao seu lado, eu imagino que há uma mesa com uma veste nova e limpa (dignidade), um anel (aliança de amor), um calçado (não somos escravos) e um grande banquete (festa) de amor está sendo preparado. Após um abraço forte e demorado, com alegria, Ele diz: “Filho(a), Eu te amo!”.
*Padre Marcio José do Prado, natural de São José dos Campos (SP), é sacerdote da Comunidade Canção Nova e Vice-Reitor do Santuário do Pai das Misericórdias. É autor do livro “Entender e viver o Ano da Misericórdia”, pela editora Canção Nova.
Twitter: @padremarciocn