*Lino Rampazzo
Num importante documento do Concílio Vaticano II (1962-1965) lemos: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”.
Podemos aplicar e refletir estas palavras no Dia do Trabalhador de 2021, perguntando: quais são as alegrias, as esperanças, as tristezas e as angústias do trabalhador nesta situação de pandemia?
A cada dia o noticiário fala mais das tristezas e das angústias do que das alegrias dos trabalhadores. De fato, a pandemia intensificou profundamente a crise de muitos no Brasil.
Um dos graves problemas na área trabalhista diz respeito ao desemprego. A situação, neste aspecto, já era ruim mesmo antes da crise da pandemia, de modo que seus impactos no país tendem a ser ainda mais dramáticos.
Essa situação seria mais facilmente contornável, caso a maioria da população estivesse em empregos formais. No entanto, o grau de formalização das ocupações no Brasil vem caindo continuamente desde 2015, com destaque para a perda dos empregos no ramo industrial. Sem o dinamismo desse setor, uma massa de trabalhadores foi se deslocando para setores de menor produtividade e menores salários, especialmente no comércio e serviços em geral, os quais serviram como válvula de escape à deterioração e queda do emprego formal. Fala-se, então, de “sucateamento dos postos de trabalhos”, “informalização”, “enfraquecimento dos direitos trabalhistas”, “uberização” etc.
Diante dessa crise, particularmente a do desemprego, o Papa Francisco assim se expressou recentemente: “Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade de um digno sustento?”.
Estas palavras estão no documento “Patris corde”, que significa “com coração de Pai”, publicado no dia 8 de dezembro de 2020, por ocasião do 150° aniversário da Declaração de São José como padroeiro universal da Igreja. São José, além de ter sido o “amado Pai” adotivo de Jesus e esposo de Maria Santíssima, foi trabalhador, e trabalhador que sofreu!
Saiu com Maria de Nazaré para Belém para o recenseamento determinado pelo imperador César Augusto. Lá Maria deu à luz Jesus. Onde? Num estábulo “porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Certamente José não tinha dinheiro para pagar a hospedaria.
Com 40 dias de vida Jesus foi apresentado no templo. E José ofereceu a contribuição dos pobres: “dois pombinhos” (Lc 2,24). Depois ele fugiu para o Egito, porque Herodes queria matar o menino. E José, com Maria e o menino Jesus, sofreu na difícil situação de refugiado.
Em seguida voltou para Nazaré, mantendo a família com seu trabalho de carpinteiro (Mt 13,55). Ele é o pai trabalhador! Sobre isso, assim se expressou o Papa Francisco no documento citado: “São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho”.
Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo. O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família”.
Que São José Operário, cuja memória é celebrada pelos católicos no dia 1° de maio, Dia do Trabalhador, nos ensine a dar um sentido ao trabalho e com sua intercessão ajude a Igreja e a sociedade inteira a valorizar os trabalhadores reconhecendo e atribuindo-lhes a dignidade que merecem. Dessa maneira, teremos “esperança e alegria”.
*Lino Rampazzo é Doutor em Teologia e Coordenador do Curso de Teologia da Faculdade Canção Nova