A Faculdade Canção Nova realiza neste semestre o Curso de Extensão “História da África”, um convite à reflexão sobre a formação da sociedade brasileira, em seus aspectos históricos, culturais e identitários.
Para Reinhart Koselleck, no texto Futuro Passado – Contribuição à semântica dos tempos históricos (2007), conhecer um mundo histórico é indagar sobre as relações entre passado e futuro. Na diferença entre eles, torna-se possível aprender e apreender o chamado tempo histórico.
Ela torna visível e dizível a experiência temporal. A história é a reconstrução narrativa, conceitual e documental, em um presente, da assimetria entre passado e futuro. Passado e futuro reenviam-se um ao outro em tempos diferentes, mas estão conectados entre si. O presente muda e, nessa mudança, o passado e o futuro, constantemente, são rearticulados, levando à reescrita da história. Ao historiador interessa conhecer a relação que, no presente, cada sociedade estabelece com o seu passado e o seu futuro.
Paul Ricoeur, em História e Verdade (1968), exprime que o conceito filosófico de “verdade” é complexo, e suas relações com a história/tempo são ainda mais. É pensar a verdade histórica com os conceitos de “interpretação” e de “compreensão”, que implicam reconstruções temporais múltiplas, embora não solipsistas e nem relativistas. Interpretar é atribuir sentido a um mundo em uma época determinada; compreender é, a partir dessa atribuição de sentido, autolocalizar-se no tempo, articulando e integrando suas próprias dimensões temporais.
No imaginário popular, alimentado por notícias depreciativas, o continente africano, ainda hoje, experimenta o pêndulo entre a visão do paraíso primevo e idílico das savanas coalhadas de animais selvagens; além do espectro de um lugar assolado por tragédias humanitárias, guerras civis, epidemias de fome, de doenças como o ebola, e recorrentes imagens de imigrantes ilegais que arriscam suas vidas na travessia do Mediterrâneo em balsas precárias em busca de vida melhor na Europa.
Porém, pode-se constatar que a África real, em muitos aspectos, assemelha-se ao Brasil. Sim, há pobreza, corrupção, mazelas e problemas. Ao mesmo tempo em que tem países de economia dinâmica e legiões de estudantes que frequentam universidades e centros de pesquisas.
Essa África de história milenar, de culturas complexas e diversas, permanece como um desafio também para os brasileiros, especialmente os de ascendência branca e europeia, os quais mantêm com essa raiz africana uma relação contraditória, marcada por duas atitudes extremas: de um lado, manifestações de preconceito racial; de outro, a celebração ufanista e irreal das heranças africanas, como nos festejos de Carnaval, sem reconhecer, entretanto, que os responsáveis por elas – os negros e seus descendentes – buscam o mesmo tratamento e as mesmas oportunidades usufruídas por brasileiros de outras origens. Por isso, estudar esse mosaico africano e afrodescendente traz o eco de um pensamento inquietante, do século XVII, de um missionário jesuíta, Padre Antônio Vieira, que assim se pronunciou: “O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África.”
Laurentino Gomes, na obra Escravidão – Do primeiro leilão de escravos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares (volume I), faz pensar que a África, alvo de antigos e arraigados preconceitos, permanece um desafio para a civilização tecnológica e industrial do século XXI.
Nesse sentido, esse curso está orientado por um ensinamento imemorial de Tomás de Aquino para todos aqueles que consideram a vida um contínuo aprendizado, ou seja, que ela desperte nos seus leitores agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, graça e abundância para falar, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir.
* Marcius Tadeu Maciel Nahur é professor nos cursos de Filosofia e Teologia da Faculdade Canção Nova em Cachoeira Paulista (SP).