Foram muitas as surpresas em sua eleição. A começar pela nacionalidade. Nossos maiores rivais no futebol, com um papa! Logo não perdemos a piada: “o papa até pode ser argentino, mas Deus é brasileiro”. Ao se apresentar, disse que veio do fim do mundo, e pediu que rezassem por ele. Ele entende mesmo de periferias, e demonstrou toda sua humildade!
Nada mais condizente com suas características quanto à escolha do nome: Francisco. O pobrezinho de Assis escolhido como modelo a inspirar a lembrança dos mais fracos. E é impressionante como nesses 10 anos o Santo Padre foi sempre empático: com os imigrantes, náufragos, os que sentem fome, dor ou desamparo. Não esquece um dia sequer das vítimas das guerras ou de catástrofes.
Ainda me lembro do receio que senti quando, em sua primeira viagem para o Brasil, seu carro se viu cercado por populares – Eu pensava nos riscos, na sua segurança. Mas com o tempo, fui me acostumando com o jeito do Papa que se “demora” no contato com as pessoas; quer estar próximo. Discursos menores, de rápido entendimento, ele valoriza a prática, e seus gestos de compaixão são abundantes! Um dia perguntaram para um amigo de Bergoglio, um rabino argentino: “ele não tem medo de acontecer alguma coisa ruim com ele?” A resposta: “Ele é um homem de Deus, não teme a morte”!
E sua simplicidade? Deixou adornos de lado, aposentos pomposos e isolados. Fez questão de ir pagar a conta onde ficou hospedado antes de ser escolhido. Nos lava-pés, foi a presídios e outras instituições. Não veio mesmo para ser servido!
Relatou que foi eleito para representar uma Igreja sinodal. Pois foi abrindo “janelas”, “portas”, para ouvir a todos. Nomeou pela primeira vez, cardeais de diversas nacionalidades. Também em suas viagens, muitas vezes, trocou a comodidade de encontrar estádios lotados em países tradicionalmente católicos para visitar nações com pequenas comunidades cristãs. E por falar nisso, mesmo sendo tão ligado à sua Argentina, até hoje não voltou à sua pátria.
Voltando ao modelo adotado, honrou também a São Francisco ao compor em 2015 a belíssima e profética Laudato Si (Louvado Sejas). Mas não só! A cada oportunidade, renova seu apelo em defesa do nosso planeta. O último se fez ouvir na recente Conferência da Organização das Nações Unidas sobre os oceanos: “Somos uma só família, partilhamos a mesma inalienável dignidade humana, vivemos numa casa comum da qual somos chamados a cuidar”.
Todos os meses propõe uma intenção de oração. Para março, nos chamou a rezar pelas vítimas de abuso: “Pedir perdão é necessário, mas não é suficiente. Pedir perdão é bom para as vítimas, porque são elas que devem estar ‘no centro’ de tudo. A sua dor, os seus danos psicológicos podem começar a cicatrizar se encontrarem respostas; ações concretas para reparar os horrores que sofreram e evitar que se repitam”. Francisco está ao lado dos que sofrem e sempre dá um passo além para que toda humanidade avance. Qual será o próximo?
*Osvaldo Luiz Silva é jornalista, escritor, e apresentador do programa Café da Manhã, transmitido diariamente pela Rádio Canção Nova.