Corações ardentes, pés a caminho

* Sandro Arquejada

Vocação significa chamado que nasce de um sonho do coração de Deus para você. Assim, é anterior à sua própria existência, pois te “escolheu nele antes da criação do mundo” (Ef 1,4), e na sua concepção o cumulou de todos os dons e capacidades para cumprir seu desígnio (cf. Eclo 16,26-27). Por isso é graça, é uma dádiva do Senhor, ninguém fez por merecer, tudo isso é por pura bondade Dele. 

No Brasil, a Igreja encerra em 26 de novembro de 2023 o Ano Vocacional, que tem como tema: “Vocação: Graça e Missão” e lema: “Corações ardentes, pés a caminho”. A inspiração veio do documento final do sínodo dos bispos sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. 

De uma maneira geral, a Igreja nos comunica e nos faz entender que ninguém veio a existir por acaso e que a missão é que dá sentido à existência da pessoa.

De fato, se compreendermos a graça de Deus, o amor Dele por mim e por você, nosso coração irá arder. Esse lema do Ano Vocacional foi inspirado no trecho dos discípulos de Emaús, que diziam entre eles: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32-33). Jesus os iluminava justamente sobre Sua morte, ápice de Seu amor por nós. O coração que compreende o amor de Deus por si, arde e então, responder à vocação é quase que irresistível.

Moisés viu a sarça ardendo, se aproximou para contemplar aquela visão que julgou maravilhosa (cf. Ex 3,3) e, mesmo se achando insuficiente, obedeceu a Deus indo ao Faraó.

Jeremias disse: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7). Mas o jovem rico, que também sentiu arder seu coração quando Jesus “olhando bem para ele, com amor”, não aceitou o chamado do Mestre e: “foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens” (cf. Mc 10,21-22). Imagine os anos seguintes na vida desse moço! O jovem rico foi embora triste não porque possuía muito, mas porque não teve a coragem de pôr os pés a caminho, pois poderia ao menos fazer a experiência.

E você, o que julga não poder ou não conseguir renunciar para seguir seu chamado? Bens materiais? (Mc 10,22); Dinheiro? (Mt 6,24); Carreira (Mt 4,18b-19); Família (Lc 14,26); Fraqueza (IICor 12,7-9)?      

O chamado inquieta o coração do vocacionado, não como algo que o invade, coagindo-o, muito pelo contrário, é sempre feito pelo Criador com delicadeza e amor. A nós cabe aderir, ou não, pois será sempre pela via da liberdade. 

A escolha é minha e sua! E nos fará intuir o sentido da própria vida. Vai-se percebendo uma conexão do ser com uma missão, há identificação do coração com uma tarefa ou um modo de vida. Daí vem a alegria e a felicidade de ser o que se é. Dê o passo, coloque seus pés a caminho! 

Nisso tudo há um caminho de discernimento, é gradual. Primeiramente se faz a experiência com um carisma, antes de decidir. Após essa etapa, não dá para pôr “a mão no arado e olhar para trás” (Lc 9,62). 

A tristeza e falta de sentido, geralmente, acontecem na vida do consagrado que deixa de ter o coração ardente pela vida que o encantou um dia e olha para trás, as opções “do mundo” que vão deixando os pés mais lentos no seguimento do caminho. 

Deus te confia uma missão! Mas só quem coloca os pés no caminho é que descobre o sentido da sua vida, porque, como dizia o fundador da Canção Nova, Padre Jonas Abib: “Só é feliz quem realiza sua vocação!”

* Sandro Arquejada é missionário da Comunidade Canção Nova, formado em administração de empresas e Teologia. Atualmente trabalha na “Formação – Núcleo das Famílias”. É autor dos livros “Maria, humana como nós”, “Ato Conjugal, Beleza e Transcendência”, “Como Rezar o Terço Mariano”, entre outros, pela Editora Canção Nova.