Ancorados na esperança da graça

* Padre Leonardo Ribeiro

Com a graça de Deus estamos caminhando neste ano jubilar, proposto pelo saudoso papa Francisco, com muitas iniciativas de reflexões, peregrinações e atividades movimentadas pelas nossas dioceses, a fim de acender no coração do povo de Deus a certeza que o Senhor é a nossa verdadeira e plena esperança, e Nele precisamos estar “ancorados”.

A figura da âncora é muito emblemática quando relacionada à virtude da esperança. O papa Francisco apresenta esta imagem no final da Bula de proclamação do Ano Santo no parágrafo 25: “No caminho rumo ao Jubileu, voltemos à Sagrada Escritura e sintamos, dirigidas a nós, estas palavras: ‘Nós que procuramos refúgio n’Ele, encontramos grande estímulo agarrando-nos à esperança proposta. Nessa esperança, temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu, onde Jesus entrou como nosso precursor’ (Hb 6, 18-20). É um forte convite a nunca perder a esperança que nos foi dada, a mantê-la firme, encontrando refúgio em Deus.”

Hoje vemos na sociedade um cenário de insegurança e medo. São as enfermidades, a instabilidade financeira que gera divisões e diferenças sociais gritantes, a falta de cuidado com os mais fragilizados, a indiferença da parte daqueles que deveriam ter um olhar mais cuidadoso e responsável com o povo. Além disso, a guerra, a fome, a miséria e, por fim, cada vez mais uma dessacralização e perda do sentido da vida. Tais realidades fazem com que o coração humano se torne um barco à deriva, levado às maiores tempestades.

Em meio às tormentas da vida, o ser humano precisa ser restaurado na sua capacidade de confiar. Confiança que foi se perdendo por conta das decepções e frustrações que todos nós somos passíveis de experimentar. Mas não podemos perder a visão que tais decepções são apenas as provas que precisamos passar. Infelizmente, hoje, raramente estamos dispostos a sofrer, a perceber que o Senhor permite que vivamos certas provações e privações porque a forja nos possibilita crescer na fé, em santidade, a fim de alcançarmos a promessa do Céu.

Vemos inclusive, uma geração de jovens muito capacitados no que diz respeito às novas tecnologias e redes sociais, porém, afetivamente muito fragilizados, inconstantes e superficiais nas relações que estabelecem. Quando se deparam com as provas que a vida impõe, não são capazes de suportar a angústia e o sofrimento, e o resultado, muitas vezes, é o adoecimento psíquico.

É preciso retomar a confiança, a certeza de que temos um Deus que cuida de nós. Como o Papa nos fala, temos confiança e esperança que as tempestades da nossa vida não irão prevalecer. Maior é o nosso Deus, é a esperança que precisa ser reavivada em nossos corações, que supera a tristeza, a insegurança, o pecado e a morte.

Precisamos, sim, recorrer às pessoas, ao acompanhamento clínico, porque Deus também se utiliza de meios e pessoas para nos auxiliar. Contudo, como refletido na Carta aos Hebreus anteriormente, nas horas de tempestade é no Senhor que precisamos encontrar refúgio, não nas coisas, nas pessoas, no trabalho. O nosso auxílio e confiança precisam estar no Senhor e na sua graça que não nos abandona.

A esperança na graça de Deus nos impulsiona a prosseguir corajosamente e decididamente, mesmo se o caminho se apresenta tortuoso e escuro. A esperança na graça nos coloca como totalmente dependentes do cuidado de Deus, na certeza de que tudo vai passar e não precisamos cair no desespero que, inclusive, é a maior investida do inimigo de Deus contra nós.

Que neste percurso do Ano Jubilar o Senhor renove a nossa alegria, fé, o nosso desejo de nos levantar, mesmo, muitas vezes, sem forças. Não estamos à deriva, conosco está a nossa “âncora”, a certeza de que não vamos perecer em meio às tempestades. É o próprio Senhor que nos olha e diz: “Não tenha medo, coragem, sou Eu!” Que o Senhor nos ajude, pois a esperança não decepciona! Deus abençoe!

* Padre Leonardo Ribeiro é missionário da Comunidade Canção Nova.