Caminheiros na fé

*Rogéria Moreira

 

Na mensagem especial para o Dia das Missões, o Papa Francisco nos recorda que Jesus é o primeiro e Maior Evangelizador. Identificar-se como evangelizador e missionário é buscar no próprio Cristo a força e a inspiração necessárias para assumirmos a missão de evangelizar. Em Jesus está centrado todo conteúdo da evangelização, o Verbo Encarnado, a Palavra viva.  A fonte de toda missionariedade está no Cristo.

 

Não existe missionariedade autêntica se não tiver Cristo como fonte primeira. É nele que vamos dar continuidade nessa missão, como destaca o pontífice: “O mundo tem uma necessidade essencial do Evangelho de Jesus Cristo. Ele, através da Igreja, continua a sua missão de Bom Samaritano, curando as feridas sanguinolentas da humanidade, e a sua missão de Bom Pastor, buscando sem descanso quem se extraviou por veredas enviesadas e sem saída.”

 

Mas a quem nos dias de hoje o Senhor nos envia? Onde encontrar o homem ferido, machucado à beira do caminho, esperando que novos bons samaritanos apareçam? Ele está por toda parte. Talvez trabalhando hoje ao nosso lado, tomando conosco a mesma condução, entrando no mesmo mercado ou consultório médico, buscando o filho na mesma escola. Não é necessário ir longe para encontrá-lo. Assim, assumimos a missão de levar o verbo, a palavra que é Jesus a tantas pessoas.

 

É claro que Deus designa e chama aqueles que têm abertura para colocar suas vidas à disposição do Evangelho. Quantos jovens têm respondido a esse apelo e se tornando, como na mensagem do Papa Francisco, os “caminheiros na fé”. Num mundo que parece estar se esvaziando de fé encontramos, certamente, ainda muitos missionários repletos do ardor evangelizador, inspirados na palavra que diz: “Vem e segue!”.

 

Foi esse ardor que fez com que, em 1995, eu tivesse a coragem de deixar minha família, minha profissão para experimentar a alegria de ir ao encontro daquele que precisa ouvir a mensagem do Evangelho. Nesses anos como missionária na comunidade Canção Nova, toquei em várias realidades de lugares de missão no Brasil e no exterior, e em todas elas afirmo que a pessoa mais beneficiada foi eu. É a experiência do “Dai, e dar-se-vos-á”. Quantos momentos marcantes, ouvi e toquei em histórias sofridas que me levaram  a uma maior maturidade em meu chamado.

 

Recordo-me do tempo vivido na missão Portugal, quando ainda estávamos no início dos trabalhos. Fizemos a experiência de sair sem nada, como nos fala o Evangelho: “Não leveis bolsa, nem mochila de viagem, nem sandálias; e a ninguém saudeis longamente pelo caminho. Assim que entrardes numa casa, dizei em primeiro lugar: ‘Paz seja para esta casa!” (Lc 10, 4-5). Deparamos-nos com pessoas enfermas, famílias desestruturadas, pobreza, e falta de esperança. Vivemos intensamente a nossa missionariedade e tocamos na Divina Providência. E, naquele tempo, ninguém conhecia o trabalho evangelizador que a Canção Nova realizava. Como cresci nesses dias como pessoa e como missionária.

 

Poderia relatar muitos fatos marcantes em missões, desafios e superações, milagres e curas, mas deixo aqui o convite para aqueles que querem “ver para crer”, experimentar para testemunhar a graça de uma vida em missão. Em tudo, que Deus nos encoraje e não nos falte o ardor missionário e a vontade de nos tornamos “caminheiros na fé”.

 

* Rogéria Moreira (Rogerinha) é missionária da Comunidade Canção Nova, autora do livro “Aquele que Fala Contigo”, pela Editora Canção Nova, e lançou o CD Parresia, pela Gravadora Canção Nova