Casais de segunda união não devem ser excomungados, mas integrados na Igreja

*Rodrigo Luiz dos Santos

 

O Papa Francisco afirma que os casais de segunda união “não foram excomungados: não são excomungados!”. Ele defende que estas pessoas fazem sempre parte da Igreja, mas explica que a realidade delas contradiz o sacramento cristão. A orientação é “integrar” famílias feridas e recasadas na vida da Igreja. Por isso, pede que as comunidades sejam acolhedoras e ajudem os recasados a se integrarem na vida cristã.

 

Durante o voo de retorno da viagem ao México, em fevereiro, a jornalista Anne Thompson, da Nbc News questionou o Papa. A norte-americana queria entender a misericórdia apresentada pela Igreja, já que perdoa com mais facilidade um assassino do que a uma pessoa divorciada que volta a se casar. Francisco agradeceu a pergunta e respondeu que no documento a ser publicado no dia 8 de abril, apresentará aspectos definidos como “feridas das famílias”, que devem ser acompanhadas pela Igreja. O Santo Padre citou o encontro emocionante com famílias, na cidade mexicana de Tuxtla. Entre os vários depoimentos, o de Humberto e Cláudia, recasados e integrados na pastoral da Igreja. “Comungamos com o irmão frágil, o doente, o necessitado, o prisioneiro”, testemunhou o casal de segunda união.

 

Francisco disse que “integrar” é a palavra-chave usada no Sínodo. Integrar não significa receber a Comunhão. O Papa Francisco esclarece que a Igreja mantém “todas as portas abertas”, o que não quer dizer que daqui em diante os cônjuges vão “receber a Comunhão”. E que as crianças devem nortear as decisões, já que elas acabam sendo “as primeiras vítimas das feridas, das condições de pobreza, de trabalho”. Neste sentido, os pais devem procurar transmitir o amor de Deus experimentado no serviço e assistência aos outros.

 

A Igreja se preocupa com a distância dos casais de segunda união da vida da comunidade, como se fossem excomungados. Cada vez mais, tem aprofundado a consciência de que é necessário melhorar o acolhimento para com os batizados que estabeleceram uma nova convivência depois do fracasso do matrimônio sacramental. Retomando as palavras de João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris consortio, a Igreja oferece um olhar materno visando o bem e a salvação das pessoas. Nesse sentido, leva em consideração a necessidade de fazer o discernimento sobre a diferença entre quem sofreu a separação e quem a provocou.

 

Com o aumento de divórcio, é preciso investir nos cursos de noivos das paróquias. No livro “Papa Francisco às Famílias, os segredos para a conquista de um lar feliz”, apresento outros assuntos relacionados à vida familiar e constato que a família é uma espécie de espelho da vida. De fato, “é bela porque não é harmoniosa”, escreveu o inglês Gilbert Keith Chesterton. De acordo com este escritor cristão, a sanidade da família resulta das discrepâncias e diversidades próprias que ela enfrenta. As comunidades devem estar sempre atentas às pessoas e tornar visível o exemplo de Jesus Bom Pastor inclusive na linguagem e nas atitudes.

 

* Rodrigo Luiz dos Santos é missionário da Comunidade Canção Nova, jornalista e autor do livro “Papa Francisco às Famílias: os segredos para a conquista de um lar feliz”, lançado pela Editora Canção Nova. É, atualmente, editor-chefe da Central de Jornalismo da  TV Canção Nova.
Twitter: @rodrigosanluiz