*Padre Antonio Xavier Batista
As últimas décadas foram repletas de mudanças na sociedade, de uma forma tão intensa, que talvez não tenha ocorrido antes. Nosso mundo globalizado possibilita chegarem rapidamente pensamentos e fatos, de uma parte a outra do mundo, especialmente com o advento das redes sociais.
Tivemos muitos progressos no campo social e político, onde problemas e situações, mantidas até então em sigilo, vieram à tona. Também as coisas boas obtiveram espaço para sua divulgação, embora não na mesma proporção. Talvez por serem “menos” impactantes ou fora do interesse frenético de nosso tempo.
Nesse contexto, o tema da família entrou numa ampla discussão em âmbito civil e religioso. Esse debate, quase sempre, se fundamenta em argumentos afetivos que visam sensibilizar as pessoas, qualquer que seja o lado, pensado e defendido por elas. Poucas são as contribuições que levam em conta a história da humanidade como um todo, e mesmo a função social da família a partir de dados científicos.
O dilema gravita sobre a questões como: aceitar é concordar? Tolerar é dar legitimidade à posição do outro? E tais questões se fundem numa discussão infinita. No último ano, a Igreja Católica, também já preocupada há décadas com esse tema, recebeu como presente a publicação da Encíclica Amoris Laetitia, a alegria do amor em família, do Papa Francisco, que trata da dimensão positiva da família. O documento é uma contribuição para toda a sociedade, pois suscita a reflexão sobre um tema muito importante.
Para aprofundar esse assunto, a Semana Nacional da Família, de 13 a 19 de agosto, tem como tema: Família, uma luz para a vida em sociedade. Normalmente, as análises sociais são feitas a partir da sociedade, em busca de identificar seus problemas e possíveis soluções. No entanto, a proposta é de olhar para a sociedade positivamente, buscando encontrar na família a nascente da verdadeira vida social. É certo que a palavra família é capaz de provocar diferentes sentimentos e lembranças, dependendo da pessoa e sua história de vida, e isso não se refere somente ao passado, mas aos sonhos e projetos de futuro.
A família possui problemas, fragilidades e situações carentes de aperfeiçoamento, mas é inegável seu papel e importância para a sociedade, é uma escola de valores. É nessa instituição que se aprendem as orientações básicas da vida como o afeto, a convivência, a educação para o amor, a justiça e experiência de fé. É no ambiente familiar saudável que o coração de cada pessoa se equilibra, pois ali se alicerçam a responsabilidade e o compromisso, se exercitam o amor e o perdão, aprende-se a dialogar.
O cuidado com a família precisa ser prioridade de toda a sociedade, mas isso não substitui a necessidade de que cada um cuide bem do ambiente interno de sua família. Esse cuidado parte do não exigir do outro a perfeição que não possui, saber equilibrar as expectativas em relação a cada um, sem querer fazer cumprir a vontade pessoal apenas. É saber que a felicidade numa família é uma conquista, exige dedicação, atenção e doação de todos. É o amor vivido que leva a suportar com paciência o processo de crescimento do outro, desculpar suas falhas, alegrar-se com a realização alheia sem nutrir inveja, realizar-se na felicidade do outro. A família é como um jardim composto por cores diferentes, cada planta dá o melhor de si para que todo o jardim possa ser belo e assim todas participam da mesma beleza.
Somos convidados, nesta semana, a nos importarmos com aqueles que mais importam ou se importam conosco, para que nossa família possa ser também uma luz para a sociedade de nosso tempo.
* Padre Antônio Xavier Batista é membro da Comunidade Canção Nova e Assessor da Comissão Episcopal Pastoral para Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O sacerdote é Mestre em Ciências Bíblicas e Arqueologia.