A manifestação dos dons de Deus

* Paulo Pereira

É comum perceber que o cristão, ao se deparar com a narrativa do evento de Pentecostes retratada na Bíblia, no livro dos Atos dos Apóstolos, fica maravilhado com a manifestação de dons entre aqueles homens e mulheres que, após a morte de Jesus, se escondiam de medo da perseguição.  

Eles haviam visto Jesus ressuscitado, já tinham experimentado a graça e a força da ressurreição, mas ainda se escondiam, pois temiam as consequências de um anúncio público da verdade que contemplavam: Cristo está vivo. 

O capítulo 2 dos Atos dos Apóstolos diz: “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reu­nidos no mesmo lugar” (At 2, 1). O momento da efusão do Espírito Santo revela um segredo extraordinário como fruto da experiência com o “Ressuscitado”: a Unidade.  

Naquele cenáculo, estavam reunidos os apóstolos de Jesus, pessoas bem diferentes, como se pode atestar pelo caminho de evangelização que cada um tomou após a impulsão dada pelo Espírito. Não causa espanto afirmar que, entre os apóstolos de Jesus não havia uma única forma de pensar, ou um único temperamento. Pedro, o líder escolhido pelo próprio Cristo para ser o chefe da Igreja, amava Jesus profundamente, mas quis usar da espada para defender seus próprios ideais ( Jo 18, 10). Tiago e João buscaram, por meio de sua mãe, serem honrados por Jesus, recebendo lugares de destaque no céu ( Mc 10, 35-37). Natanael esnoba a origem humilde de Jesus, Nazaré (Jo 1, 46). 

Esses poucos exemplos citados revelam, com veracidade, que os apóstolos de Jesus eram homens diferentes, com ideais distintos. Contudo, no dia em que a força potente do Espírito Santo foi derramada sobre eles, além de estarem unidos, estavam em unidade, ou seja, em conformidade um com o outro. 

Ao vislumbrar a narrativa bíblica das ações dos apóstolos, é perceptível ver que as diferenças entres eles, a particularidade de cada um, já era característica do que iria ser a missão confiada a eles, por Jesus. Por exemplo, Pedro permaneceu em Jerusalém por muito tempo e morreu em Roma. Natanael partiu em direção à região que hoje é a Rússia, e ali, após a busca incessante pela evangelização, foi esfolado vivo e morreu mártir. Cada um deles tomou rumos diversos na evangelização, mas todos eram impelidos pela mesma graça, a graça do Paráclido enviado pelo Pai.  

A experiência verdadeira com o Espírito Santo é capaz de unir, mesmo em meio a diferenças de pensamentos ou objetivos de vida. Não há um verdadeiro Pentecostes quando se vive em desunião e guerras com o próximo. 

Que a graça do Espírito Santo, renovada verdadeiramente neste dia de festa e júbilo, possa guiar o cristão para essa união verdadeira, que não rouba a identidade, mas conduz a formar a bela família do povo de Deus, que mesmo com pensamentos diferentes, possui um único desejo: o Céu.  

Que o Espírito da unidade ensine os cristãos a viverem em união. Amém!

* José Paulo Neves Pereira é missionário da Comunidade Canção Nova e atuou por quatro anos na Frente de Missão em Roma, no Jornalismo da TV. Atualmente é Coordenador de Conteúdo da TV Canção Nova.