*por Lino Rampazzo
Infelizmente, com muita frequência, ficamos chocados com noticiários que relatam ataques violentos. Podemos lembrar alguns, mais recentes: em Las Vegas, no último dia 2 de outubro, mais de 50 pessoas morreram e 400 ficaram feridas quando um homem armado disparou, a partir do 32º andar de um hotel contra a multidão durante um festival de música country.
Posteriormente, dia 5 de outubro um segurança ateou fogo em uma creche de Janaúba (MG) e matou crianças e professoras. Em 31 de outubro, oito pessoas morreram atropeladas na ilha de Manhattan, em Nova York, após o motorista de uma caminhonete invadir uma ciclovia. E, no domingo, 26 pessoas morreram numa igreja Batista no Texas, alvejadas por um atirador.
E, se olharmos para outras regiões do mundo, como a Síria, o Iraque, o Afeganistão, ou a Somália, a violência se manifesta com um número muito mais impressionante de vítimas.
Várias leituras podem ser feitas, com referência à violência, do ponto de vista econômico, político, social, psicológico etc. Por exemplo, é comum que os homens violentos sejam pessoas com sérios problemas psicológicos.
Nossa sociedade minimiza esses transtornos e banaliza a violência, ignorando sinais de que realmente atos terríveis como estes possam acontecer.
Mas há também uma leitura religiosa cristã. Neste sentido, a Bíblia, desde o começo, procura dar uma primeira resposta à seguinte pergunta: O mal vem de Deus?
Eis a resposta: “Deus viu que a luz era boa” (Gênesis 1,4); “e Deus viu que era bom” (Gênesis 1,10.12.18.21.25); “Deus viu tudo o que tinha feito, e tudo era muito bom” (Gênesis 1,31). Em outros termos, o mal não vem de Deus. De Deus só provém o bem!
De onde, então, vem o mal? O Capítulo terceiro (Adão e Eva) e quarto (Caim e Abel) do Gênesis apresentam como que a “entrada do mal no mundo”. O mal, através da tentação do espírito do mal, simbolizado pela figura da serpente, entra no coração do homem, através da experiência do pecado. E uma das formas do pecado é a violência, como pode ser visto no relato de Caim que chega a matar o próprio irmão.
O Papa Francisco, na sua mensagem para o dia Mundial da Paz de 2017, mostrou como este pecado da violência se manifesta nos dias atuais. Eis as suas palavras: “Enquanto o século passado foi arrasado por duas guerras mundiais devastadoras, conheceu a ameaça da guerra nuclear e um grande número de outros conflitos, hoje, infelizmente, encontramo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços”. Pense, pois, em algumas tristes manifestações desta “guerra aos pedaços”: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; abusos sofridos pelos migrantes e pelas vítimas de tráfico humano, devastação ambiental.
Jesus lembra que todas essas coisas más saem do “coração do homem” (Mc 7,23).
Qual é a resposta que nós cristãos, juntamente com todos os “homens de boa vontade”, podemos e devemos dar diante de tantas manifestações de violência?
A citada mensagem do Papa Francisco para o início de 2017 tem o seguinte título: “A não-violência: estilo de uma política para a paz”. Nela o Papa lembra as palavras e o exemplo de Jesus, de São Francisco, de Madre Teresa de Calcutá, do Mahatma Gandhi (na Índia), de Martin Luther King (nos Estados Unidos), de Leymah Gbowee (a mulher que tornou realidade o sonho de paz na Libéria, África), dos cristãos da ex-União Soviética, que contribuíram para uma transição pacífica na sociedade depois da queda do comunismo.
E assim conclui: “No ano de 2017, comprometamo-nos, através da oração e da ação, a tornar-nos pessoas que baniram dos seus corações palavras e gestos de violência, e a construir comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum. Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos de paz”.
Hoje muitas pessoas acessam a internet, com a maior facilidade. Vou, pois, terminar esta reflexão, sugerindo que acessem a mensagem que citei do papa Francisco – http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/peace/documents/papa-francesco_20161208_messaggio-l-giornata-mondiale-pace-2017.html. Vamos ler, meditar e construir a paz, pois “a não-violência é mais poderosa que a violência”.
* Lino Rampazzo é doutor em Teologia e coordenador do curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP).