Quando pensamos no tema educação, nos lembramos de grandes pedagogos, pensadores e estudiosos dos séculos passados, mas raramente associaremos este tema tão interessante a algum santo da Igreja Católica. Porém, com tamanha alegria, apresento para vocês uma referência neste assunto: São João Bosco, conhecido popularmente como Dom Bosco, um sacerdote italiano, que viveu no século XIX, fundador da Congregação Salesiana e canonizado em 1934 pelo Papa Pio XI.
Dom Bosco enfrentou na cidade de Turim, localizada no norte da Itália, um grande desafio: formar e educar crianças, adolescentes e jovens, excluídos e explorados por uma sociedade oportunista, em plena Revolução Industrial, no qual a educação não era nem um pouco evidenciada, pelo contrário, estava sucumbida pela mão de obra barata e pelas cifras lucrativas dos ricos barões, donos de fábricas com turnos intermináveis e condições precárias de trabalho.
Em seu chamado vocacional, aquele pobre sacerdote de estatura baixa e de um coração gigantesco havia compreendido que seu campo de missão seria acolher aqueles meninos marginalizados, dar-lhes um lar digno, repleto de amor, capacitação profissional e, acima de tudo, uma espiritualidade pautada na misericórdia de Deus. E foi assim que, incansavelmente, Dom Bosco fez. Impulsionado pelo lema: “Da mihi animas cetera tolle”, que significa “Dai-me almas e ficai com o resto”, ele gastou toda a sua vida pela salvação dos jovens, principalmente dos pobres e abandonados.
O santo dos jovens, como é popularmente conhecido, desbravou muitos campos, foi além do seu tempo, e como um visionário, também contribuiu muito no campo da educação, desenvolvendo métodos muito úteis ainda nos dias de hoje. Dom Bosco criou o Sistema Preventivo, que se opõe a todo e qualquer tipo de repreensão, e se baseia, sobretudo, na relação, onde o educador enxerga o aluno como um amigo, e este o vê como um benfeitor, que o aconselha e quer ajudá-lo a ser melhor.
E dentro daquele cenário de exploração e agressão, que Dom Bosco via atingindo todos os dias seus jovens, percebeu que era necessário fazer algo com a finalidade de uma comunicação educativa válida, de modo que a linguagem do amor fosse indispensavelmente colocada em primeiro lugar. Não basta ao educador amar os jovens; isto é, não basta que os jovens sejam amados pelo educador, eles devem saber que são amados por ele. Esta é uma das intuições psicológicas e pedagógicas mais brilhantes criadas por Dom Bosco.
E precisamente pela necessidade de “os jovens saberem que são amados”, surge a importância de que o educador manifeste o seu amor, e isso se dá, inevitavelmente, por meio da presença. E Dom Bosco ensina que a melhor forma para que isso aconteça é compartilhar as alegrias com os jovens, viver em contato com eles, compreendê-los, tentar sintonizar-se com seus sentimentos, não pensar em esquemas mentais irreconciliáveis, mas compreender suas situações, dúvidas e necessidades. E para que o círculo educacional entre o educador e aluno se feche é preciso que haja familiaridade, confiança, amizade verdadeira, principalmente no pátio, ou seja, no contato informal, rejeitando então toda apatia e indiferença.
Em nosso contexto atual podemos constatar que isso é verdadeiramente muito aplicável e funcional, e até percebemos, neste período em que vivemos, como a tecnologia pode ser uma ajuda interessante. As escolas e os centros de formação profissional não deixaram de ser eficazes, mesmo em meio aos desafios da pandemia.
O ambiente digital tornou-se então uma forma de se comunicar e de estar presente. E também nos levou a enxergar como é tão necessária a relação humana. Que não é suficiente uma tela como um instrumento de aproximação, mas que é preciso, de fato, o encontro, o estar juntos, aprender e ensinar por meio do toque e do olhar, e assim, partilhar, alegrar-se, recolher lágrimas e deixarmo-nos tocar pela grandeza da relação e do afeto, pois ensina também Dom Bosco que “a educação é assunto do coração”.
Somos então convidados, principalmente por Dom Bosco, que liturgicamente celebramos sua memória no dia 31 de janeiro, a sermos os primeiros portadores do sacramento da presença em nosso coração. Mesmo que atualmente o ensino remoto seja uma saída eficaz, não podemos correr o risco de nos acostumar com a ausência das relações, no ambiente familiar e também no ambiente escolar. Deixemos que os ensinamentos deste santo tão atual, ilumine nossos passos e principalmente o futuro das novas gerações. São João Bosco, rogai por nós!
*Thulio Fonseca é ex-aluno salesiano e missionário da Comunidade Canção Nova, atualmente na Frente de Missão em Roma – Itália.