* Osvaldo Luiz
O inferno e o céu do mesmo jeito. Uma comprida mesa de jantar, repleta de alimentos. As pessoas sentadas uma de frente para a outra. Um detalhe: os talheres têm cabos enormes, de um metro.
No inferno, a bagunça se instaura: as pessoas tentando comer, mas, sem conseguir levar à boca, derrubam os alimentos na mesa e pelo chão. Passam fome diante do banquete!
No céu, tudo em harmonia: cada um coloca a comida na boca da pessoa sentada à sua frente…
“Há mais felicidade em dar do que em receber” (At 20,35), disse Jesus há bastante tempo. Mas parece que as pessoas não acreditam muito nesta sentença. Pelo contrário! Todo mundo quer tirar proveito “da situação”, dar um jeito de se beneficiar, o tal do “jeitinho brasileiro”.
A pessoa pensa: “se não fizer isso por mim, quem vai fazer?” Ou: “quem chega primeiro bebe água limpa”. E assim, ninguém dá passagem para o outro no trânsito, ninguém quer ser o último da fila… E no ônibus, há quem finge dormir para não ceder o lugar a um idoso ou a mulher com criança no colo.
No geral, pensa-se que é somente questão de educação, de se lembrar das “palavras mágicas”: obrigado, com licença, por favor. Mas não! Esse é retrato de uma sociedade egoísta, que busca ansiosamente a satisfação de suas necessidades.
Pode-se dizer também que a culpa é da insegurança, da violência. Que hoje não dá para abrir um sorriso para qualquer um… Como se a apatia ou o isolamento fosse capaz de proteger alguém. Por outro lado, esquece-se que grande parte da sociedade é formada de pessoas de bem, trabalhadoras e honestas, desgastadas também nessa correria do dia a dia e, para quem, um sorriso, uma delicadeza, poderia fazer toda a diferença.
Penso também que a gentileza pode fazer toda a diferença nas redes sociais. Que tal escutar mais os argumentos alheios, dar ao outro o benefício da dúvida, antes de despejar palavras agressivas? Tratar o outro como gostaria de ser tratado…
Há tempo, ouvi o relato de como o Estado de Ohio, nos Estados Unidos, se tornou um dos maiores produtores de milho. Um fazendeiro conseguiu uma safra extraordinária, em quantidade e qualidade. Separou, então, seus melhores grãos para o plantio da próxima safra e deu para os produtores que tinham propriedades fronteiriças. Resultado: no ano seguinte não só ele, mas também seus vizinhos conseguiram uma safra recorde.
Daí, o fazendeiro voltou até os que tinham ganhado as sementes e pediu que eles repetissem seu gesto, separando seus melhores grãos para outros produtores que faziam fronteira com eles. Os vizinhos reagiram:
– Você nos deu porque quis, ninguém lhe obrigou.
– Vocês acham que lhes fiz uma caridade? Perguntou o fazendeiro. Ao dar minhas melhores sementes para vocês plantarem, estava garantindo que minha próxima colheita fosse ainda melhor. Pois a qualidade das minhas espigas não depende só do que está plantado em minha propriedade. O vento, insetos e aves trazem, muitas vezes de longe, o pólen necessário para a produção. E se vier de plantações inferiores, não teremos uma produção de excelência…
Oferecer o melhor para os outros! Que tal experimentar?
* Osvaldo Luiz Silva é jornalista, autor dos livros “Ternura de Deus” e “A vida é caminhar”, pela Editora Canção Nova, editor da Revista Canção Nova e Presidente da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA), em Cachoeira Paulista (SP).