Ser fraterno é tratar cada um como irmão - por prof. Felipe Aquino

O fundamento da moral cristã que construiu a Civilização Ocidental está claramente descrito nas seguintes palavras do Papa em sua mensagem de Paz deste ano: “A fraternidade leva-nos a ver e tratar cada pessoa como verdadeira irmã e um verdadeiro irmão”; “uma fraternidade privada da referência a um Pai comum, como seu fundamento último, não consegue subsistir”.

Mas, hoje, muitas contradições ferem a fraternidade no mundo e no Brasil, entre elas o tráfico humano e o trabalho escravo. No caso do tráfico humano, sofrem, sobretudo as mulheres, quase sempre crianças, pobres, que, enganadas, acalentam o sonho de uma vida melhor em um país diferente, alimentando a prostituição nas ruas. E o pior de tudo é que se tenta legalizar a prostituição como “profissão”, como se fosse algo digno.

Segundo dados dos organismos internacionais, pelo menos 12,5 milhões de pessoas são vítimas do tráfico no mundo, com um lucro para o crime organizado estimado em cerca de 10 bilhões de euros por ano. Segundo um informe das Nações Unidas (UNODC), todos os países do mundo são atingidos de alguma forma pelo tráfico humano.

De acordo com a ONU, o tráfico de pessoas para exploração sexual é a terceira maior fonte de renda ilegal no mundo. Estima-se que, por ano, quase um milhão de pessoas são traficadas, das quais 98% são mulheres. O Brasil lidera o vergonhoso ranking dos maiores exportadores de mulheres, com 85 mil vítimas. Daí o motivo do tema da Campanha da Fraternidade de 2014.

Esta é uma grande chaga do mundo moderno. E além do tráfico humano há o caso da “imigração clandestina”, que burla a lei.  As leis atuais não são suficientes para vencer esse crime porque é preciso também que sejam atacados os mecanismos que estão na base do fenômeno: a persistência, nos países de origem, de situações estruturais de pobreza e a dificuldade legal para migrar. Por outro lado é necessário combater a forte demanda de trabalho a baixo custo e a ampla demanda de prestações sexuais nos países de destino.

Outra chaga que ainda grassa em muitos lugares de nosso país é a do “trabalho escravo”, onde muitas crianças são colocadas ilegalmente no mundo do trabalho, ao invés de irem para a escola, recebendo apenas migalhas. Há também trabalhadores que não conseguem outro sustento a não ser se submetendo a um “emprego” com um pagamento quase que apenas suficiente para aplacar a fome. É a continuação disfarçada da antiga escravidão negra.

Ainda estamos longe de viver o que Cristo nos ensinou: “amai-vos uns aos outros”; “amar o próximo como a si mesmo”. Esta dura realidade mundial e brasileira mostra que somente quando o coração de cada homem for tocado pelo amor de Deus é que teremos de fato paz e fraternidade.

Somente o toque da graça de Deus no coração humano poderá impedir que o Caim de hoje continue a matar o irmão Abel, e perguntar: “O que tenho a ver com meu irmão?”. Somente quando todos os homens entenderem que somos filhos de um mesmo Pai, e, portanto, todos irmãos, é que poderá haver paz e harmonia. Somente quando a luz da fé brilhar no coração humano é que poderemos criar um mundo onde o homem não precise mais implorar por seus direitos humanos.

*Felipe Aquino é professor de física e matemática, autor de mais de 70 livros e apresentador dos programas “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos” na TV Canção Nova e “No Coração da Igreja” , na Rádio Canção Nova. Em julho de 2012 recebeu o título de “Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno”, concedida pelo Papa às pessoas que se destacam, no seu trabalho, em prol da evangelização, em defesa da fé e o desenvolvimento da Igreja Católica.