*Padre Evandro Lima
Quando caminhamos pelas ruas de Israel, especialmente em Jerusalém, temos a possibilidade de encontrar uma pequena amostra da diversidade de povos, línguas, culturas e religiões que existem na terra onde nasceu Jesus.
A realidade desse povo que vive no oriente é marcada, principalmente, pela centralidade monoteísta das três principais comunidades religiosas na Terra Santa: Judaica, Muçulmana e Cristã, cada uma com seus livros sagrados, Torá, Alcorão e a Bíblia, respectivamente.
Nós, católicos, somos impelidos a responder positivamente à questão do diálogo entre religiões, baseado na declaração conciliar “Nostra Aetate”, do Concílio Vaticano II. Essa atitude demonstra nossa vivência religiosa.
Essa consciência, trabalhada pelos últimos Papas, busca condições para o abraço fraterno com os povos e tenta formar uma única e grande família humana, uma unidade mesmo diante da diversidade, com o respeito que todos merecem.
A mesma busca pelo diálogo inter-religioso, é também aplicada ao esforço ecumênico entre as religiões denominadas cristãs. É perceptível a aproximação com as diversas Igrejas e ritos na Terra Santa.
As diferenças não devem ser barreiras e impedir o diálogo, mas podem tornar-se riquezas e serem partilhadas. A consequência de uma relação fraterna com as Igrejas cristã é uma eficaz troca de experiências e valores, iniciada pelo que nos une.
Após uma história de separação decorrente de discordância doutrinal e dogmas conciliares, é possível perceber o empenho das igrejas cristãs na colaboração ecumênica.
Fazer ecumenismo na Terra Santa tem seus desafios próprios, decorrentes, principalmente, das múltiplas origens, línguas e culturas, bem como da mentalidade e do temperamento das diversas confissões religiosas.
A dificuldade ecumênica em Israel não ocorre somente em razão das diferenças de credo ou teologia, mas também da dificuldade de criar pontes entre as culturas. A prática da religião na Terra Santa já causa certa divisão, pois o fato de pertencer a determinado grupo religioso traz um contexto particular.
Todos os anos, na Terra Santa, no final de janeiro, há um tempo reservado para refletir esse tema. A semana de oração pela unidade dos cristãos consiste em celebrações com as várias denominações cristãs todos os dias. Líderes das diversas igrejas elevam suas vozes em harmonia e concordância por justiça e paz.
Assim, católicos, ortodoxos, coptas, armênios, protestantes, entre outros, recordam que, em primeiro lugar, são todos cristãos, e buscam um ponto de convergência. Este importante evento, impulsionado pelo Amor de Cristo, quer realizar a oração de Jesus ao Pai que pede para que sejamos um com Ele (Jo 17,11).
O amor misericordioso da Cruz de Cristo nos lembra dessa unidade na beleza da diversidade e reforça que precisamos construir pontes e não muros, como disse o Papa Francisco no Angelus do dia 9 de novembro de 2014.
A Cruz é o caminho que nos faz lembrar de nossa identidade, história e crença. Sinal de nossa redenção, esperança e vida. “Eis o lenho da cruz do qual pendeu a salvação do mundo” (rito da sexta-feira santa).
A unidade cristã não significa que precisamos partilhar a mesma língua, a mesma liturgia ou os mesmos costumes. Entretanto, é necessário partilhar a mesma linguagem, ser fonte da água que sacia os povos sedentos de fé. Unidos à cruz de Cristo, os cristãos podem se abastecer desse amor misericordioso, pois foi de lá que jorrou a fonte da vida; sangue e água que redime e purifica todo o gênero humano.
* Padre Evandro Lima é membro da Comunidade Canção Nova e está em missão na Terra Santa.