Transtorno do Pânico: qual caminho seguir?

*Elaine Ribeiro

 

“Indo para o trabalho, sentei-me naquele ônibus cheio. Comecei a sentir um tremor estranho… Logo vieram suor, coração batendo na garganta… Desespero… Sensação de estar confuso…”

“Estava em um ótimo momento, viajando e fazendo o que mais amava: estar com meus filhos. Foi nessa hora que um filme de terror começou a acontecer comigo…”

“Eu estava num ritmo frenético; muitas solicitações, pressão de todos os lados no trabalho. Foi daí que recebi a indesejável visita dele.”

 

Nesses relatos, uma situação em comum: sinais de uma ansiedade quase que incontrolável e a certeza de morte ou de algo que sai do controle. Sintomas com características muito mais físicas do que emocionais. São relatos de pessoas que passaram por um episódio de pânico ou são portadoras do Transtorno do Pânico.

 

O pânico passa por uma estrutura fisiológica e cerebral, que dispara as crises e reações mais ou menos intensas de ansiedade e medo, levando as pessoas até mesmo ao isolamento social. Como qualquer doença, requer acompanhamento especializado e uma compreensão ampla, tanto do paciente quanto daqueles com quem convive.  

 

As interpretações, muitas vezes distorcidas, de familiares, amigos, colegas de trabalho, das empresas, ainda são grandes barreiras no cuidado efetivo das pessoas que passam pelo Transtorno do Pânico, fazendo com que muitas tenham dificuldade para buscar ajuda especializada, que passa pelo cuidado médico e psicológico. Portanto, não é algo que envolve o “querer estar bem”, nem trata-se de falta de caráter, força ou fé.

 

A crise se manifesta com sintomas físicos e emocionais, durando de 5 a 30 minutos, caracterizada por intensa ansiedade e medos desproporcionais, de uma ameaça da qual não sabemos a origem nem ao menos se, de fato, existe.

 

Na presença dos sintomas, na maioria das vezes, a pessoa vai ao pronto-atendimento dos hospitais, pois é comum os sinais serem confundidos com os de um infarto. O sistema nervoso autônomo fica fortemente excitado e tomado de sensações de ameaça, perigo, morte, perda de controle ou receio de ser ridicularizado em público.

 

Nem sempre existe explicação exata de como o Pânico começa. Pesquisas mostram que uma vida agitada, sem pausas, de muitas exigências, cujas pessoas são autocríticas e ansiosas, pode contribuir para as crises. Ao passar pelos sinais e passar por um processo de diagnóstico, é importante, além do uso de medicamentos para equilibrar o “químico”, também buscar ajuda na psicoterapia. O tratamento contribuirá para a pessoa identificar os sinais de alerta, bem como lidar com as crises, que não têm uma hora certa para acontecer.

 

Ao aceitar ou compreender as situações que geram ansiedade e as crises, a pessoa passa a ser capaz de lidar com elas de forma mais racional e de administrar os sintomas, minimizando a percepção catastrófica daquele momento.

 

É muito importante que, ao iniciar o tratamento, ele não seja interrompido frente às melhoras apresentadas, pois apenas os profissionais poderão dar este retorno ao paciente. As interrupções repentinas, podem piorar o quadro em questão. Para que a pessoa tenha mais qualidade de vida é necessário que ela constate sua capacidade de lidar com os sintomas e situações que favorecem o Transtorno do Pânico ou com eventuais sentimentos autodepreciativos, até desqualificantes.

 

*Elaine Ribeiro é psicóloga clínica e organizacional e colaboradora da Fundação João Paulo II/Canção Nova.