Padre Jonas Abib, falecido em dezembro de 2022, pode ser lembrado em muitas áreas de atuação, nas quais se destacou em sua intensa vida. De formação Salesiana, foi um importante líder juvenil nas décadas de 60 e 70. Para tanto, se empenhou na música, sendo um dos primeiros sacerdotes a tocar violão em encontros. Suas canções, lançadas nas décadas seguintes, nos ajudavam a aproximarmos de Deus: “ouço teu silêncio meu Senhor”; “quero transformar numa canção, as juras de amor por ti meu Deus” são alguns exemplos.
Mas, uma tuberculose mudou sua trajetória. Após tratamento em Campos do Jordão (SP), teve que deixar a capital e ser quase “exilado” em Lorena (SP). Seu ritmo acelerado não ajudava na recuperação, e seu superior foi firme: ele deveria dar somente uma aula por semana na Faculdade de Filosofia da cidade.
Aliás, muitos anos depois, experimentei essa disposição extraordinária do Monsenhor Jonas, o acompanhando em duas viagens. Uma foi a Goiânia (GO), onde, ao ir para uma reunião sobre a criação da Rede Católica de Rádio, ele quis aproveitar todos os intervalos para se encontrar com os representantes da Renovação Carismática Católica (RCC) de lá, e até encontrou tempo para celebrar uma missa com eles.
Outra vez, numa ida a Campinas (SP), para reunião com a TV Século 21, saímos de madrugada de Cachoeira Paulista (SP), pois a reunião começaria cedo. Após o almoço, padre Jonas quis conhecer o trabalho de uma Nova Comunidade que trabalhava com moradores de rua. Fez contato com seu dirigente e foi visitar as casas de acolhimento masculina e feminina. Ficou tão entusiasmado com o trabalho que quis celebrar uma missa na sede, e já era fim da tarde. Chegamos em Cachoeira noite adentro. Realmente, o padre era incansável!
Mas, voltando à sua história, foi em Lorena, no final de 1971, que padre Jonas viveu a experiência do Batismo no Espírito. O movimento Carismático Católico estava recém chegado ao Brasil, e deu novo vigor ao seu ministério. Ele retomou os encontros com os jovens e, juntamente com leigos da região, começou a realizar os encontros de Seminário de Vida no Espírito, Experiência de Oração e Aprofundamentos. Em pouco tempo, tornou-se uma referência nacional da RCC.
Pregador exímio, conseguia prender a atenção em suas palestras por uma hora, às vezes, até mais. Com sua Bíblia de capa de couro, inseparável, ganhou até um apelido muito adequado de quem não entendia bem seu sobrenome, de ascendência sírio-libanesa (Abib): Jonas Abib, para muitos era o padre Jonas “da Bíblia”.
E assim, comprovou-se em vários outros segmentos pelos quais o sopro do Espírito o levou. Ao fundar, no final da década de 70, a Canção Nova, uma comunidade carismática mista, tornou-se referência também para as Novas Comunidades, conhecidas como a “Primavera da Igreja”.
Ao iniciar os trabalhos no rádio e na TV, logo se destacou como um dos que mais investiu em Comunicação religiosa na América Latina. E assim ele viveu e evangelizou, como prenunciou seu lema sacerdotal: “Feito tudo para todos”! Padre Jonas Abib não se poupou. A exemplo de seu patrono Dom Bosco, gastou-se como uma vela, por inteiro, na missão de salvar almas para Deus.
Mas, para mim, o grande destaque na sua vida foi o extraordinário ser humano que era. Padre Jonas estava por inteiro em cada momento. Reconhecia as pessoas e chamava cada uma pelo nome. Olhava nos olhos, abraçava, sorria. Queria estar perto de seus jovens, dos que faziam parte de seu grupo, de sua comunidade. Num de seus últimos aniversários, disse que queria ter “um milhão de amigos” (lembrando a música de Roberto Carlos). E acho que teve muito mais!
*Osvaldo Luiz Silva é jornalista, trabalha há 32 anos na Canção Nova e escreveu o livro “A Vida é Caminhar”, que relata fatos da década de 1970 da vida de Padre Jonas Abib.